O trabalho como fonte de (in)felicidade

O trabalho como fonte de (in)felicidade

Texto publicado no site Associação dos Profissionais da Propaganda em agosto de 2021.

Trimmmm, o alarme toca às 06:00 h da manhã de segunda-feira. Você, assustado e meio desnorteado, confere o relógio na esperança de ter programado o horário para mais cedo e poder dar aquela “esticadinha”. Ao levantar-se da cama, pensa:

a) Puts, mais uma semana de trabalho…

ou

b) Oba, mais uma semana de trabalho!

Qualquer que seja a alternativa escolhida, esse texto objetiva discutir a dimensão que o trabalho ocupa em nossas vidas. É possível que um emprego ou atividade possam representar, simultaneamente, fonte de renda e satisfação pessoal? Veremos a seguir.

O lindíssimo filme japonês “A Partida”, do diretor Yojiro Takita, conta a história de um jovem músico, pouco dedicado, que, ao ser dispensado da orquestra em que atuava, passa por vários cargos, sem conseguir se fixar em nenhum. Acidentalmente, depara-se com um anúncio de emprego sobre “partidas”, em que pensa ser uma vaga para trabalhar em uma agência de viagens. A surpresa ocorre quando descobre que a oportunidade se referia à preparação de cadáveres, ou seja, sua função seria a de maquiar e embelezar os corpos antes do enterro. O que poderia parecer um emprego assustador representou para o protagonista um ofício que lhe oferecia plena satisfação pessoal e financeira, além de ser uma forma de expor seus verdadeiros talentos.

O autor Mihaly Csikszentmihalyi nomeia de “Flow” a atividade na qual sentimos bem-estar em executar e que faz com que percamos a noção de tempo e de espaço. É como se  tudo parasse enquanto nos dedicamos àquela tarefa; entramos em um estado alfa, em um nível extremamente avançado de concentração, de entrega e de aplicação das nossas competências e habilidades. É como se tudo se encaixasse naquele instante, “nasci para isso”.

Não raramente, ouvimos depoimentos de amigos comentando o trabalho como sinônimo de decepção, raiva e frustração. Em que pese essas falas, acreditamos que dispomos, sim, de talentos, de aptidões e, sobretudo, de paixões que podem nos direcionar a um ofício mais prazeroso.

O quê, então, pode mudar essa perspectiva pesarosa acerca do trabalho? Talvez uma oportunidade. A boa notícia é que essas possibilidades dependem muito mais da nossa coragem e da vontade do que ficar no aguardo de uma nova oportunidade que apareceu no seu Linked in.

Csikszentmihalyi apregoa que vivemos atualmente uma era de especializações que acabou por limitar o potencial dos seres humanos. A escolha de um curso no vestibular tem, inclusive, decretado o destino profissional derradeiro de muita gente incrivelmente versátil. E quanto às nossas outras potencialidades que ainda não encontraram condições adequadas para desabrochar?

Várias profissões se consolidaram nos últimos anos e vêm conquistando respeito e admiração. DJ´s, fotógrafos de gestante, tatuadores, instrutores de pilates, consultores de moda, professores de dança, chefs de cozinha, entre outros, são exemplos de atividades que se ganharam destaque nos últimos tempos. Essas ocupações representam uma pequena amostra do rol de possibilidades que permitem harmonizar uma ocupação que realmente produza sentido na vida de quem o exerce com o reconhecimento da sociedade. E que, consequentemente, também gere bons rendimentos financeiros.

E quanto a mim? Qual o verdadeiro valor do meu trabalho? Estou satisfeito com meu rumo profissional? Aos que não estão, sugiro conversar com aqueles colegas que atuam em atividades tidas como não convencionais. Ter conhecimento dos obstáculos pelos quais passaram é muito valioso para compreender que o processo de construção de uma profissão não se alicerça apenas com boas notícias. Coragem, foco e brilho nos olhos costumam ser uma combinação poderosa.

Acredite: permitir-se entrar por uma nova porta pode revelar inúmeras possibilidades pela frente. Quem sabe uma (ou várias delas) manifeste suas aptidões, fazendo com que sua rotina deixe de ser um fardo e o alarme da manhã sirva para despertar seus verdadeiros talentos, apesar da pandemia, do homeoffice ou dos inúmeros boletos que chegam.

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