Telas Quentes

Telas Quentes

Guto e Peixoto não se viam há uns 5 anos. Acabaram marcando um encontro no bar após se “esbarrarem” em um aplicativo.

– Gutão, quanto tempo! – saudou.

– Eu vou bem. E você, Peixoto?

– Joia!!! Pensei que você fosse trazer a Luciana.

– Cara, tá difícil demais. Não rolou. Ela relaxou muito comigo, sempre descuidada. Sem vaidade nenhuma para me agradar. Fica o dia inteiro mexendo no celular em um aplicativo com fotos. Acredita que, dia desses, ela foi no banheiro com o celular na mão e deixou a porta aberta? Para mim, isso é sinal de relaxo e de desgosto com a vida. – lamentou Guto.

– Bom, acho que você foi muito infeliz na sua fala. Eu conheço vocês dois desde a faculdade. Você sabe que eu era apaixonado pela Lu, mas o tempo passou. Superei. Certamente, ela também deve ter um monte de queixas sobre você. Até parece que você é um cara fácil. Me lembro daquelas brigas bobas, de ciuminho, que você provocava do nada. De qualquer forma, espero que vocês fiquem bem.

– Peixe, deixa ela pra lá. Ela é um fardo que vou ter de levar para o resto da vida.

– Que isso, Guto.  Acho que você está pegando pesado com Luciana. Ela é uma mulher maravilhosa e inspiradora. Eu a sigo nas redes sociais. Lá vocês parecem sempre tão felizes.

– Cara, fica na sua! Você tem uma imagem dela que não condiz com quem convive no dia a dia. E, numa boa, não te pedi qualquer tipo de opinião. – finalizou de forma ríspida.

Pois é, o reencontro nem bem havia acabado de acontecer e já enfrentava um climão. Guto, de birra, pegou o celular e começou a manuseá-lo, evitando olhar para o amigo.

– Guto, é isso mesmo? Vai ficar aí no celular?

Guto não respondeu.

O garçom se aproximou e perguntou:

– Boa noite, querem pedir algo?

– Um chopp para mim. Guto, você vai beber o quê?

Guto não respondeu e sequer se virou para Peixoto.

– Por ora, só um chopp mesmo.

Silêncio…

– Guto, vou pedir mais um chopp. Quer um?

Silêncio…

– Guto!

Guto, concentrado no celular, se manteve no modo “belém belém nunca mais estou de bem”.

Peixoto, meio injuriado com a situação, disse de forma resolutiva ao amigo:

– Qualé, Guto! Fala sério! Deixa de bobeira, cara. Você não mudou nada desse seu jeito infantil. Cara, eu tenho uma coisa muito séria para falar para você. Algo realmente importante. Você vai ficar aí olhando para o celular a noite toda?

Guto, fazendo jus à pecha de imaturo, soltou essa:

– Então, Peixoto. Eu nem estava muito a fim de te ver. Só vim aqui porque precisava de um pretexto para sair de casa. Sério. Até torci para você furar. Aí você vem se meter no meu relacionamento. Mandou mal, cara. Perdeu a graça. Prefiro ficar quieto no bar futucando esse aplicativo de paquera que me indicaram. Se quiser conversar fala aqui com a minha mão.

– Eita! Rapaz, melhor ir nessa então. Acho que vocês dois precisam de ajuda. Imagino a barra que vocês estão passando, mas acho que você passou dos limites. Vou deixar aqui na mesa a grana dos meus chopps.

– Falou. Té.

– Garçom, desce um chopp aí para mim. – Guto começou então a beber.

A saída de Peixoto foi uma espécie de alívio para Guto que passou a mexer exclusivamente no celular.

“Nossa, quanta gata nesse aplicativo. Aposto que, se está por aqui, é porque tá doida pra aprontar. Me falaram que é só sair clicando para que uma delas aqui da região me aceite. Depois disso é Match. Ponto para o papai.”

E tome clicada nos perfis femininos.

Mais de 2 horas se passaram e nada de alguém retribuir as curtidas do Guto.

“Devo ter feito algo errado. Nenhuma mina se interessou por mim. Deve ter bugado o app. Vou trocar minha foto.”

Guto tomou mais 5 chopps. Levemente alterado, passou a clicar em todos os perfis.

“Algumazinha tem que se interessar por mim”.

Mais 3 chopps na mesa e 97 cliques no celular. Nada.

Quando olhou para o relógio viu que eram 01:30 h. Guto pensou: “esse app não tá com nada. Papo furado. Vi que não rola nada por aqui mesmo.”

– Garçon, a conta.

Após pagar aquele monte de chopp, Guto vai para a calçada a fim de dar uma última olhada panorâmica nos bares da região. Lá longe, avista seu amigo Peixoto conversando animadamente.

“Mandei mal com meu amigo. 5 anos sem ver o cara. Vou lá pedir desculpas. Acho que fui meio infantil mesmo. Quem sabe a gente não vai à caça juntos, como nos velhos tempos”.

Guto foi chegando perto do amigo, que conversava ao pé do ouvido de uma jovem. Guto bateu no ombro de Peixoto:

– Peixotão, foi mal aê…. ei, ei, Luuuu, o que você está fazendo aqui?

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