Férias: passaporte para a criatividade
Artigo publicado em janeiro de 2021 no site da ESBrasil.
Férias é tempo de recarregar as energias não somente do corpo, mas também para oxigenar o nosso repertório cultural. Nesse sentido, as experiências propiciadas em uma viagem costumam possibilitar memórias marcantes que servem de base para a expansão do potencial criativo. Quem teve a oportunidade de conhecer um novo lugar e se encantar com as descobertas sabe bem como isso gera histórias, conversas e lembranças.
Os estudos em criatividade geralmente informam sobre a importância de fugirmos das nossas zonas de conforto e das práticas automatizadas que não envolvam reflexão. Muitas vezes agimos como robôs, a ponto de obedecermos cegamente um horário para acordar, para trabalhar, para estudar, para nos alimentar e para descansar. Tudo cronometrado. Quando nos atrasamos um pouco ou deixamos de fazer uma atividade no tempo determinado, parece que perdemos o compasso dos nossos afazeres; é como se o trem de nossos compromissos descarrilasse.
Mas será que tem de ser sempre assim? Será que não conseguimos transformar as experiências cotidianas em oportunidades para contemplar o sensível e o diferente no nosso dia a dia, assim como fazemos quando estamos em viagem?
Pois bem, quando nos colocamos com espírito de viajantes tendemos a ser mais flexíveis, uma vez que teremos de lidar com contextos diferentes dos que estamos acostumados. “Como é a comida daquele lugar?”; “Tem praia?”; “As coisas são caras?”; “As pessoas serão educadas para me informar sobre um local?”; “Tem Uber?”. São perguntas que antecedem uma nova jornada e que evidenciam o receio de se lidar com o novo, com o imprevisível, com aquilo que não está sob nosso controle.
Concordo que uma viagem nem sempre é sinônimo de maravilhamento e de boas recordações. E se aquele prato exótico que você desejou por meses lhe trouxer uma indigestão violenta que o impeça de ir ao teatro? E se a espera por um sol digno de novela das 7 acabou se configurando em um temporal que não se via igual há 15 anos e que fez com que você e sua família ficassem presos no hotel?
O autor Henrique Szklo, no livro “Você é criativo sim senhor!”, compara o processo criativo a uma pessoa que está passeando na floresta e, do nada, encontra uma caverna escura. Diante daquela imagem, ela tem de decidir se quer conhecer o que há ali dentro ou prefere evitar aquela exploração. Não se trata simplesmente do temor do escuro e da ausência de visibilidade, mas, sim, de entrar em um espaço do qual não se tem domínio. E se houver morcego? E se, por outro lado, encontrarmos um lindo lago que poucos tiveram o privilégio de conhecer? Só saberemos o que a caverna contém se a desbravarmos.
A relação entre a criatividade e a possibilidade de conhecer novos lugares nas férias vai nesse caminho. Toda viagem gera expectativa e ansiedade que são absolutamente normais, pois não temos como nos certificar se a experiência será gratificante ou decepcionante. No entanto, se quisermos ampliar nosso repertório, obter mais cultura, desenvolver novas formas de pensar, é preciso apertar o cinto e encarar como oportunidade os passeios que nos aparecem, bem como as situações e as circunstâncias que surgem.
Não perca a chance de conhecer locais diferentes. Visite. Dos pontos mais longínquos às cidades vizinhas à que mora. O aprendizado adquirido é único e será importante nos processos criativos que estão por vir. Além de trazer para sua vida muito mais bagagem do que uma mala pode comportar, vai possibilitar enxergar mais beleza e mais sensibilidade naquilo que compõe o seu cotidiano, mas que por força da rotina acabou se tornando invisível aos seus olhos.