O esforço por trás de cada ideia
Tenho trabalhado há tempos com o intuito de alinhar a criatividade à uma competência e não a um dom, como costuma ser dito por aí. O ponto de partida das grandes ideias tem origem no “querer fazer” por parte de um criador. Contudo, alerto que nem sempre elaborar algo original é garantia de êxito, tampouco de aplausos efusivos. Inclusive, me atrevo a afirmar que a maior parte das tentativas criativas não floresce, fica em stand by, nasce em “momentos errados” e acaba ficando pelo caminho.
Independentemente de serem aplicadas ou não, as inovações tendem a ser pensadas por gente que se debruçou sobre um problema, pensou em alternativas, renunciou a um tempo valioso de sua vida com o objetivo de trazer algo novo para o cotidiano. Esse é o tópico central desse texto: a valorização do esforço criativo por quem se propõe a pensar em novas soluções.
Steven Johnson, autor do livro “De onde vêm as boas ideias“, nos ensina que as inovações costumam ser geradas a partir de pequenas ideias inacabadas, que vão se acrescentando a outros insights a fim de, com o tempo, ganhar mais consistência. Curiosamente, esses acréscimos surgem em intervalos irregulares, muitas vezes longos, podendo durar anos. Johnson nomeia esse fenômeno de “Intuição Lenta”. Quer um exemplo? Imagine só o trabalho de um roteirista de cinema: do argumento inicial até a redação final, muito tempo é transcorrido. A história pode, inclusive, mudar de rumo algumas vezes, até mesmo ao longo das gravações. Perceba quanta energia mental é despendida em algo cujo resultado é incerto e que pode ser descartado durante o processo.
Diante desse cenário, qual a nossa postura em relação àqueles que não “acertaram” de primeira na ideia apresentada? E se esse insight for o embrião de algo impactante que está por vir, mas que ainda não encontrou o terreno e as sementes propícias para prosperar?
Concordo que as ideias devam ser criticadas, contanto que os apontamentos sobre elas sejam orientados para o desenvolvimento de um processo criativo integral. Caso contrário, quando se desqualifica uma ideia sem levar em consideração as condições necessárias para sua elaboração, interrompe-se não somente o fluxo que poderia gerar um produto valioso, como também há o risco de inibir o ímpeto criativo de quem se dedica, sofre e enfrenta inúmeras interrogações na implementação de uma solução inédita.
Concluindo: não sugiro que devamos aceitar e aprovar tudo o que nos é apresentado. Longe disso. Porém, uma boa dose de sensibilidade pelo esforço criativo é capaz de aumentar a motivação do criador tendo em vista a sua valorização e, consequentemente, a obtenção de ideias que façam a diferença na vida em sociedade.