Criador de Fases

Criador de Fases

Você já viveu uma fase que considerou ser a mais criativa?

A história que vou contar aconteceu comigo. Há uns anos, uma aluna perguntou se eu me considerava na minha melhor fase como criador. Surpreendido com o questionamento, comecei a revisitar minha carreira como publicitário, que teve início em 1995, para tentar avaliar se em algum momento me senti surfando no tal ápice criativo.

Nessa breve análise, acabei apontando precocemente o período entre 1996 e 1998 como o mais representativo e marcante do ponto de vista da originalidade. Nesse recorte, atuei como redator de uma agência de propaganda que atendia anunciantes locais e nacionais. Participávamos de concursos e tive a felicidade de ganhar alguns prêmios. Grande parte dos materiais que havia criado nessa época estava guardadinho em um portfólio. O problema é que não sabia onde eu tinha deixado essa pasta. Dei início a uma investigação para achá-lo.

Meses depois, recebo uma ligação de minha mãe falando que estava promovendo uma “limpa” na casa dela e que esbarrou em um “envelopão” cheio de propaganda. Bingo! Eram as minhas criações. Corri para rever esse material. Ao me deparar com aquele portfolio, gentilmente deixado em cima de uma mesa, minha mente voou no tempo e relembrou dos grandes amigos que fiz naquela época, das noites viradas, da labuta para conceber uma frase matadora, de todos os sabores de pizza que experimentei às custas do meu chefe… Faltava apenas contemplar as criações ali contidas. Cuidadosamente, abri a pasta e fui pegando uma peça por vez. Na sétima ou oitava propaganda, desisti e falei para minha mãe:

– Pode jogar fora. Não quero ficar com isso.

Mas por que descartar aquilo que, na minha memória, eu considerava tão bacana e que foi fruto de tanto suor? Simples, o material era significativo para aquele período, em que eu passava por um momento de descobertas e crescimento. Era uma fase a qual me permitia experimentar novas formas de criação. Porém, após mais de 20 anos decorridos, notei que elas não representam minha melhor fase.

Nestes muitos anos transcorridos, muita coisa aconteceu. Mudei de empresas e, principalmente, de cabeça. Inclusive, o que julgava criativo em uma época, poderia ser motivo de embaraço nos tempos atuais. Pergunte a algum amigo criativo se ele sente vergonha de algo que produziu no passado… É batata! Asseguro que a grande maioria tem no currículo algo que preferia ter apagado. Eu tenho uma penca. E você?

Tá, mas o que fazer então?  Continue a criar e a se entregar a cada novo trabalho como se fosse o mais importante de sua vida. Mas lembre-se: o tempo é inclemente com quem não se atualiza e não se sintoniza com o que está acontecendo fora de seu eixo.

Criar exige pesquisa, concentração e alinhamento total com o contexto em que se está inserido. Fique atento ao que tem sido feito no campo das artes, música, cinema e engenharia para se conservar renovado. Ser criativo é não parar no tempo. As ideias, as pessoas, a sociedade se modificam, e precisamos nos atualizar constantemente.

Mas, e quanto a mim, afinal, qual foi a minha melhor fase como criativo? Será que isso de melhor fase criativa existe? Honestamente, não sei, porém, dessa vez, pretendo não me precipitar novamente ao apontar um tempo específico. De qualquer forma, espero viver, pelo menos, mais alguns 30 anos, criando a todo vapor. Aí, quem sabe, venho contar para vocês se existe, de fato, alguma fase mais criativa. E, obviamente, comentar sobre os novos e inevitáveis motivos de vergonha no currículo.

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2 comentários sobre “Criador de Fases

  1. Meu querido Victor, acho que minha melhor fase criativa ainda está por vir. E que continue assim, sempre no futuro. Pois se um dia eu achar que estou na minha melhor fase criativa, provavelmente terei perdido a vontade de evoluir. Abraço.

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