Amor ao primeiro slogan
Washington tinha sido recém-contratado como redator júnior em uma agência de propaganda e acabou reencontrando Ludmila na empresa. A jovem era sua veterana quando cursaram a mesma faculdade e havia sido seu primeiro grande amor platônico. Ele sempre suspirava quando a via, afinal, “Lud Lúdica”- apelido que ganhou após vencer vários prêmios de criatividade – sempre foi vista como um talento muito acima da média. Lud, por sua vez, se lembrava vagamente de Washington. Bota vagamente nisso.
“Ela precisa saber que eu gosto dela. Mas como vou me declarar para a Lud sem comprometer a relação profissional?”
Lud era 4 anos mais velha, porém, parecia ser muito mais experiente ao compararmos a extensão e o recheio dos currículos. Ela venceu concursos estudantis, participou de congressos acadêmicos, publicou artigos científicos e apresentava trabalhos com domínio total. Já Washington, bom, ele, digamos, era um bom passador de slides em apresentação de grupos na “facul”.
Como a referida agência que reuniu os dois havia vencido uma grande concorrência, acabou precisando contratar novos profissionais para reforçar a equipe. Nessa leva chegou Washington, menino promissor, educado e com um portfolio limitado a flyers diagramados no Canva Pro, em que divulgava exposição de cães da raça Shar-pei.
Ao revê-la no primeiro dia de agência, Washington ficou assustado. E novamente apaixonado. Ela, ao se deparar com ele, disse um “oi” protocolar e bem sem sal. Contudo, como Washington enfrentava problemas de pressão arterial e era um otimista incorrigível, acabou encarando aquilo como bom presságio. Estava decidido a encontrar uma maneira de, finalmente, mostrar sua admiração por Lud. Sabe o que os dois tinham em comum? A paixão pelo texto publicitário.
“Já sei! Vou escrever um texto utilizando slogans famosos. Acho que a Lud vai curtir.”
A ideia parecia genial (pelo menos na cabeça dele), uma vez que criar slogans costuma ser uma tarefa muito desafiadora para os redatores, pois há a necessidade de se criar um texto chamativo, estratégico em relação às marcas e bem sonoro, a ponto de ficar grudado na cabeça das pessoas.
“Os slogans são frases marcantes, daquelas que duram. Assim como tem sido meu encanto por Lud Lúdica…”
O início dessa tarefa não teve nada de lúdico. Foi ralação pesada mesmo. Começou fuçando anuários de propaganda. Ele anotava tudo. Chegou a registrar mais de 300 slogans. Alguns não tinham mesmo como fazer parte da declaração.
“Terrível contra os insetos. Contra os insetos. Pula esse. É gripe? Benegrip. Também está fora!”
Dias e noites foram se passando. Washignton focado na redação de um texto, aliás, “O” texto, que, tão logo ficasse pronto, seria enviado para o e-mail pessoal de Lud, para que não se confundisse com qualquer tipo de importunação profissional.
“Digito em times ou arial?”
Dilema.
“Arial é meio redondinha e divertida; times passa um aspecto de história. Vamos de times.”
Ele escreveu, escreveu, cortou palavras, até que, voilà, preparou a sua versão final para Lud.
Washington enviou o e-mail por volta de meia-noite. Pouco dormiu.
No dia seguinte, Washignton evitou sair de sua estação de trabalho. Porém, horas depois, os dois se esbarraram na cozinha da agência e Lud apenas acenou friamente a cabeça para Washington.
“Ai que vergonha de ter escrito aquilo. Ela nem deve ter lido.”
As horas se passaram lentamente naquele dia da agência. Faltando cinco minutos para o expediente acabar, eis que, ao verificar seu e-mail pessoal, Washington nota que Lud o havia respondido.
Washignton que, desde o envio do e-mail, só ficava pensando “Fuja do mico. Fuja do mico”, reagiu com um misto de frustração, resignação e alguma confiança no progresso da inicial carreira.
“Enfim, esse novo cargo Não é assim uma Brastemp, mas até que desceu redondo.”
Gostou desse texto? Se tem algum slogan que fez parte de sua vida escreve aí na seção dos comentários. Quero saber qual o slogan que ficou na sua memória.
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