Alimento para as ideias

Alimento para as ideias

Dia desses, tomando meu café da manhã despretensiosamente, me lembrei de uma das minhas bandas favoritas dos anos 1980/90 e pedi para o dispositivo:

– Alexa, toca músicas do Titãs.

O sistema de inteligência artificial Alexa me atingiu de maneira bem emocional ao colocar a música Comida como a primeira a ser executada.

Essa canção foi composta por Arnaldo Antunes, Sergio Brito e Marcelo Fromer em 1987. No entanto, a pancada para valer em meu repertório se deu quase 36 anos depois de seu lançamento. “Bebida é água. Comida é pasto”. Admito que, na época em que era um hit, eu gostava médio da música. Achava “inteligente” e sabia que ela abordava aspectos sociais importantes, mas me incomodava o excesso de elementos eletrônicos que a compunham. Outras músicas do Titãs mexiam mais comigo, como Bichos Escrotos e Aa Uu.

Porém, em janeiro de 2023, a atemporalidade da música Comida me atingiu de maneira fulminante, a ponto de não parar de ouvi-la. Fico pensando na sua multiplicidade de sentidos, na intenção dos compositores e seu impacto nos dias de hoje, sobretudo, por vivermos em um país de grande desigualdade social. “A gente não quer só comida. A gente quer bebida, diversão, balé”. Tadinha da Alexa, deve ter arranhado o disco de vinil interno dela.

Trouxe esse exemplo da música Comida para comentar sobre a importância de constituirmos um Repertório Cultural sólido e como certas obras merecem uma apreciação mais sensível. Cito também o filme Curtindo a Vida Adoidado, que revi há uns 2 anos. Na minha adolescência esse clássico da Sessão da Tarde me chamava a atenção pelo fato de jovens “matarem” aula e enfrentarem o diretor da escola. Contudo, 30 anos depois o que se descortinou é que os estudantes fugiam do ambiente acadêmico por ele ser entediante e desmotivador, encontrando na visita ao museu, por exemplo, um ambiente mais estimulante de conhecimento.

Como é o seu repertório cultural?

A lista de obras que constituem o meu repertório é grande, como possivelmente é a de quem lê esse texto. Atualizar o repertório com os itens culturais é fundamental para quem necessita da criatividade no seu dia a dia. Quem precisa ter ideias, obrigatoriamente, precisa estar antenado àquilo que está em circulação, sem abrir mão dos clássicos! Sim, sim, sim, nenhum filme se torna Laranja Mecânica ou Poderoso Chefão só pela leitura da sinopse.

Tenho uma teoria, que pode ser uma bela furada, mas é a seguinte: “filme ou livro bom é aquele que não termina quando acaba”. Ou seja, embora a exibição de um filme finalize após os 120 minutos, ou a leitura termine após 150 páginas, o conteúdo não sai de nossa cabeça e acaba suscitando debates e pesquisas. Ao final desse texto, vou elencar 10 obras que “não terminaram quando acabaram”. Fique à vontade para criar a sua lista e inserir no espaço de comentários. Pode apostar que vou adorar conhecer aquilo que mexeu com você.

Ah, e quando vários amigos assistem uma mesma obra, mas não há um consenso sobre o sentido, seja do filme, da série ou da música? Eu adoro quando isso acontece, pois nesse momento, cada um, a partir de suas subjetividades vai mostrando como aquela obra o tocou (se é que tocou), o que entendeu e quais eram as intenções dos criadores. As visões são múltiplas, pois cada um carrega experiências únicas que faz se identificar ou não com aquilo que assistiu, leu ou viu.

O escritor Umberto Eco usava o termo obra aberta para as diferentes leituras possíveis de uma produção. Para o pensador italiano, a interpretação de obras de arte não pode ser controlada pelo seu criador, uma vez que o receptor, por meio de seus repertórios e seus contextos, pode inferir vários sentidos distintos do que foi idealizado em sua origem.

Retomando sobre a importância da manutenção de um bom repertório: é preciso, inclusive, que estabeleçamos uma “dieta” severa de consumo cultural para que nos mantenhamos alinhados. É necessário que dediquemos regularmente um momento do dia para nos abastecermos de novas ideias. Séries, peças de teatro, filmes, bandas, programas de TV, livros, animes, e por aí vai. As opções são inúmeras. E muitas são deliciosamente ricas, informativas e nos dotam de novos olhares. Atualmente, estou lendo e gostando muito do o livro “Como ser um bom ancestral”, de Roman Krznaric.

A atualização do nosso repertório é colocar a cultura e suas releituras em movimento, além de dar mais ingredientes e temperos à nossa criatividade. A música “Comida”, dos Titãs, ativou a minha vontade de escrever esse texto. E a sua criatividade: ela tem fome de quê?

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8 comentários sobre “Alimento para as ideias

  1. Que texto bacana, Mazzei. Sou um entusiasta da importância do repertório, no contexto profissional e principalmente no pessoal. Até os 30 eu adorava ter “certezas absolutas”, mas hoje entendo que o importante mesmo é manter o olhar, mente e coração muito abertos e com espírito de aprendiz.

    Minha lista zipada das obras que não acabaram quando terminei de ler/assistir
    – Interestelar (filme)
    – Homo Deus (livro)
    – Sapiens (livro)
    – Divertidamente (filme)
    – Ouro de Tolo (música do Raul)
    – Gita (música do Raul)

    Abraço!

  2. Muito bom, Mazzei! Relembrar nomes de filmes e personagens, e saber emprega-los, sempre foi um auxílio e tanto para jornalistas que trabalham com a construção de boas manchetes. E ótima oportunidade para dividir o elemento cultural com os mais jovens.

  3. Repertório cultural é a melhor forma de abrir a mente e fazer conexões e sinapses que levam a criar conteúdos relevantes. Bom também é se desafiar, e assistir e ler coisas que não faria rotineiramente, até para não virar disco de uma música só. Quando a gente conecta o que leu, o que assistiu, com o que já tínhamos vivenciado, a mágica acontece! E uma das coisas que mais gosto é de peças que desafiam a pensar, por vezes acho o cinema americano meio presunçoso, como se quisesse nos levar pela mão por um roteiro construído para não deixar margens de dúvidas, enquanto as dúvidas nos abrem tantas possibilidades! Belo texto! Ps Adoro Monty Phyton!

  4. Repertório cultural diz muito sobre nós. É a identidade do indivíduo e das vidas que vivemos. Texto delicioso. Revolução dos bichos me tirou do eixo aos 13. Blecaute do Marcelo Rubens Paiva me fez viajar na adolescência e por aí vai. Não consigo listar 10. Uma coisa é fato: minha comida me engorda e me faz crescer. Bj

  5. Adorei! Segue meu repertório (ainda que seja, ao meu ver, apenas complementar ao seu):
    – Sociedade dos Poetas Mortos – filme
    – O Carteiro e o Poeta – filme
    – Star Trek Voyager – série
    – Encontros e Despedidas – música de Mílton Nascimento (na voz de Maria Rita)
    – Paulo e Estêvão – livro de Chico Xavier/Emmanuel
    – As Brumas de Avalon – livro de Marion Zimmer Bradley

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