Curadoria criativa: antes de colocar uma ideia na estrada, passe na oficina
Você decide viajar de carro com sua família no próximo feriado. Como já tem um tempo que não faz uma boa revisão no possante, aproveita para deixá-lo na oficina de sua confiança. Tudo indica que não há nada para trocar ou mexer no veículo. No entanto, ao ser analisado minuciosamente, o mecânico aponta uma série de problemas que poderia trazer muita dor de cabeça na estrada. O orçamento para fazer todas as trocas é alto, mas, perto do que investiu para o passeio, parece irrelevante, além de assegurar uma maior tranquilidade por saber que está transportando quem você ama.
O processo de criação de uma inovação, principalmente aqueles que acontecem de forma solitária, é semelhante aos preparativos de uma viagem. Embora tenhamos nossas ideias, necessitamos de um novo olhar para saber se o que elaboramos tem um potencial criativo capaz de trazer impactos no cotidiano. De uns anos para cá, passei a contar com profissionais que têm total liberdade para avaliar aquilo que crio. Eu passei a nomear esse valoroso grupo de “curadoria criativa”.
Para minha felicidade e privilégio, esses profissionais, além de examinar meus materiais, também fazem observações, apontam vulnerabilidades, ajudam na lapidação de uma proposta ainda em formação, criticam certos pontos de vista e até me orientam a desistir de uma ideia.
Ah, você quer saber se dói ter uma criação rejeitada por um curador? Claro que sim, mas o sofrimento é muito maior quando essa ideia é posta em circulação com arestas que poderiam ter sido detectadas no processo de curadoria. Uma vez divulgada sem uma boa revisão, a ideia pode se tornar alvo de muitas críticas depreciativas. Logo, a avaliação de um curador funciona como o antigo merthiolate: dói no início, mas está lá para melhorar algo.
Na publicidade, há a figura tradicional do diretor de criação que atua de maneira similar a um curador criativo, uma vez que ele/ela avalia, critica e oportuniza sugestões dos demais profissionais de criação com o objetivo de potencializar as ideias.
Nesse sentido, ressalto a importância de dispormos de uma curadoria qualificada para nos ajudar no exame de nossas criações. Para textos como este que você lê, costumo solicitar para que, no mínimo, 3 pessoas avaliem o que está escrito, de forma a contemplar, pelo menos, 2 campos:
- Técnico: a fim de verificar se a criação está alinhada às especificidades a que propõe trazer novidades. Geralmente, convoco como avaliadores colegas com ampla visão de mercado, capazes de apontar tendências e até mesmo propostas já superadas.
- Formatação: não abro mão de pedir para que se observe aspectos ligados à formatação e à apresentação. Por exemplo, para um artigo considero fundamental que alguém especialista em língua portuguesa faça uma varredura nos erros que cometo.
Não é regra, mas gosto muito de convidar um profissional pouco familiarizado com a minha produção para que também avalie. O intuito é conferir se a ideia apresentada mostra clareza e é fácil de ser compreendida por mais pessoas.
Outra dica: se coloque à disposição para ser curador de um colega. Eu, particularmente, me sinto privilegiado quando sou indicado para analisar o material de outros profissionais. Tento contribuir humildemente a partir do meu ponto de vista, ao mesmo tempo que aprendo muito e sinto que estou obtendo informações incríveis em primeira mão.
Aproveito este texto para agradecer imensamente àquelas e àqueles que já dedicaram um tempo analisando e avaliando meus materiais antes de partirem para a estrada. Certamente, cada um, à sua maneira, tal qual um mecânico muito detalhista, contribuiu para que minhas criações pudessem partir para suas jornadas de forma mais tranquila, sem sobressaltos e que pudessem atingir mais pessoas de forma mais assertiva e sensível. Muito obrigado por me permitirem embarcar nessa viagem.