Dica de leitura: O livro de Jô – vol. 1 e 2
Antes de iniciar a leitura, vale a ressalva: este texto não tem a pretensão de ser uma crítica ou uma resenha de O Livro do Jô, publicado em 2018, em dois volumes pela Companhia das Letras. Meu intuito é compartilhar minhas impressões de uma leitura que foi extremamente prazerosa, rica e muito divertida. Apesar de serem dois volumes extensos, devorei os livros em pouco tempo, tamanho a fluidez em sua forma de escrita.
Trata-se de uma autobiografia “desautorizada” de Jô Soares, escrita em parceria com o jornalista Matinas Suzuki Jr, em que Jô narra de maneira (quase sempre) cronológica fatos e causos de sua vida. É muita história boa. Demorei um pouco a me acostumar com o estilo do texto (vai ver que é a versão eletrônica do Kindle). Muitas vezes, do nada, muda-se de assunto sem qualquer cerimônia. A sensação é a de que se trata de uma conversa ao pé do ouvido narrada pelo próprio Jô.
Embora possa parecer aspectos tangenciais ao texto, é muito interessante notar como a carreira do artista vai dialogando com alguns tópicos valiosos para a comunicação brasileira, como a chegada da TV, bem como a primeira transmissão a cores, o impacto da ditadura militar na produção cultural brasileira (sim, ele também teve de prestar depoimento aos militares) e o retorno às eleições diretas já nos anos 1980.
A obra é muito abrangente; também fala da relação de Jô com outros artistas, políticos e empresários. No entanto, destaco alguns pontos:
- A relação afetuosa com os pais, em especial, a devoção pela mãe.
- O amor pelo filho: das dificuldades enfrentadas com problemas de saúde ao seu falecimento em 2014.
- A saída tumultuada da Rede Globo, em 1987. A retaliação da Globo foi violenta, a ponto de inserir Jô e os artistas que o acompanharam para o SBT em uma espécie de “lista negra”, sendo proibidos de aparecerem até em publicidade na emissora carioca.
- A produção do talk-show Jô Soares Onze e Meia/Programa do Jô. Gostei bastante do trecho em que foram abordados os critérios para selecionar os convidados e os imprevistos ocorridos com algumas entrevistas.
- Obviamente, a criação dos personagens dos programas humorísticos. Dentre eles, o Capitão Gay. Relembrando: esse personagem foi criado por volta de 1982, concomitante ao fim da ditadura. Havia uma preocupação muito grande em causar uma insatisfação entre os militares e, consequentemente, ter o quadro censurado. Nesse momento do livro, Jô narra o seu processo criativo para compor o personagem, inclusive como elaborou a música tema.
Para mim, redator publicitário, um assunto chamou bastante a atenção: a criação dos bordões. Sabemos quão difícil é elaborar um bordão. Mais complicado é fazer com que ele seja reproduzido pelas pessoas em situações cotidianas. Na obra, Jô mostra que a observação ao comportamento e à fala das pessoas anônimas se constituem a matéria-prima para produzir frases memoráveis, como “querias, mas não te dou”; “bota ponta, Telê”; “só porque eu sou pequenininho”; “Bocão!”, entre outros.
Enfim, para quem começou a ler despretensiosamente o vol. 1 da biografia “desautorizada”, de O Livro do Jô, posso afirmar que a obra me fisgou rapidinho. Para quem animar, fica o convite para conhecer a trajetória de um dos mais influentes humoristas/artistas do país. Beijo do gordo! No caso, beijo do magro!